O câncer de colo do útero está fortemente associado à infecção pelo papilomavírus humano (HPV), uma das infecções sexualmente transmissíveis mais frequentes.
O HPV é um vírus comum que pode infectar a pele ou as mucosas, sendo transmitido principalmente por meio de contato sexual. Existem mais de 200 tipos diferentes de HPV, e cerca de 40 deles podem infectar a região anogenital. O HPV é classificado em dois grupos principais: os tipos de baixo risco e os tipos de alto risco oncogênico (que pode levar ao desenvolvimento de uma neoplasia/câncer).
Os tipos de baixo risco (como os tipos 6 e 11) geralmente causam verrugas genitais e outras lesões benignas, enquanto os tipos de alto risco (como 16 e 18) estão associados ao maior risco de desenvolvimento de câncer, especialmente o câncer de colo do útero, mas também podem afetar outras regiões como a vagina, vulva, ânus, pênis e orofaringe.
A infecção pelo HPV é frequente e, na maioria das vezes, transitória, com o próprio sistema imunológico eliminando o vírus. O HPV pode não apresentar sintomas, mas em alguns casos pode causar verrugas anogenitais ou lesões subclínicas (não visíveis a olho nu), que podem ser detectadas em exames como o Papanicolau ou testes específicos para o HPV.
Embora na maioria das vezes a infecção pelo HPV seja transitória e regresse espontaneamente, alguns tipos de HPV, principalmente os oncogênicos, podem levar ao desenvolvimento de lesões precursoras. Se essas lesões não forem identificadas e tratadas, elas podem progredir para o câncer cervical. Pelo menos 12 tipos de HPV são considerados oncogênicos, com os tipos 16 e 18 sendo responsáveis por aproximadamente 70% dos casos de câncer do colo do útero.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), aproximadamente 16 mil novos casos de câncer do colo do útero são diagnosticados anualmente no país, com uma incidência maior em regiões com menor acesso a cuidados preventivos, como o exame Papanicolau e a vacinação contra o HPV. Em todo o mundo, em 2020, houveram cerca de 600 mil novos casos e 340 mil mortes relacionadas ao câncer cervical.
O uso do teste molecular para a detecção do HPV para o rastreamento do câncer cervical é um método muito eficaz e possibilita um intervalo maior entre os exames (recomendado a cada cinco anos) em comparação com o exame Papanicolau (Citologia), que precisa ser feito a cada três anos e, se houver lesões detectadas, de forma anual. Isso melhora a adesão e facilita o acesso ao exame preventivo, contribuindo para o diagnóstico precoce do câncer cervical.
A prevenção é, então, realizada pelo rastreio para que o diagnóstico seja o mais precoce possível. A vacina contra o HPV é a medida mais eficaz para prevenir a infecção, sendo distribuída gratuitamente pelo SUS para meninas e meninos de 9 a 14 anos, além de grupos de risco específicos até 45 anos. Além disso, o uso do preservativo é recomendado como forma de prevenção, embora não elimine completamente o risco de infecção, já que o HPV pode estar presente em áreas não cobertas pelo preservativo.
A autocoleta é recomendada pelas seguintes instituições: Organização Mundial da Saúde, Sociedade Americana de Colposcopia e Patologia Cervical e Sociedade Brasileira de Ginecologia. Pode ser utilizado por todos os indivíduos que possuem cavidade vaginal e são sexualmente ativos.
O Ministério da Saúde recomenda que o o exame preventivo seja realizado entre 25 e 64 anos.
Texto elaborado por Dr. Gustavo A. Campana (CRM 112.181)